Há 20 anos, Xuxa participava de uma gravação na Pavuna, Zona Norte do Rio, quando foi convidada por uma senhora para conhecer sua casa e seus filhos. Ao chegar ao local, a loura teve uma surpresa: a tal residência, um lugar supermodesto, abrigava 80 crianças! Todas recolhidas nas ruas por aquela “mãe”. Já uma estrela consagrada na época, Xuxa saiu dali disposta a seguir o exemplo que vira naquela casa. Assim começou a Fundação Xuxa Meneghel, que completa duas décadas amanhã. No início, a instituição atendia 180 crianças. Um número pouco expressivo se comparado aos de hoje, 20 anos depois. Atualmente, cerca de 1500 crianças e adolescentes passam pelos portões da entidade todos os dias.
— Até hoje lembro do encontro com aquela senhora. Aquilo mexeu comigo. Como uma pessoa sem recurso algum ajudava tanta gente? — recorda Xuxa.
A Fundação criada pela apresentadora atua na defesa dos direitos da criança e do adolescente e oferece às famílias de baixa renda de Pedra de Guaratiba, na Zona Oeste, oportunidade de desenvolver seus potenciais. Aquela história de ensinar a pescar...
— Sempre digo que quero que as crianças tenham oportunidade de ter oportunidades. Aprendi que não adianta encher todo mundo de presente, como eu queria no início. Tenho que dar dignidade e fazer com que tenham orgulho de sua vida para melhorá-la junto com sua família. Eu mesma nasci numa família pobre, morava em Bento Ribeiro, numa casa pequena com quatro irmãos, e éramos felizes. Ai de quem dissesse que eu era carente! Ser pobre não significa ser infeliz — explica Xuxa.
Para manter toda a estrutura, a apresentadora gasta R$ 1,5 milhão por mês e, no aniversário de sua Fundação, Xuxa pede um presente: quer ajuda para fazer melhorias no local.
— Esse é o custo fixo da instituição. Há pouco tempo, conto com alguns parceiros, mas eu banco a maior parte. Penso nisso todo dia, durmo e acordo com essa responsabilidade. Queria que a Fundação caminhasse com as próprias pernas para que, se um dia eu faltar, essas crianças não fiquem desamparadas. Tenho 46 anos, não sei o dia de amanhã, morro de medo de acontecer alguma coisa comigo... Minhas maiores preocupações são a Sasha e a Fundação — desabafa a loura, emocionada.
A filha de Xuxa, aliás, é uma das maiores incentivadoras do projeto. Ela pede doações na escola em que estuda, entrega suas roupas para bazares e ainda teve a ousadia de abordar o governador do Rio, Sérgio Cabral, num voo, sugerindo que ele fosse visitar a instituição.
— Sinto muito orgulho quando vejo a Sasha engajada. Ela é a primeira a pensar em soluções para receber ajuda. Vejo que o meu exemplo deu frutos. Primeiro, na minha casa — derrama-se Xuxa.
Ela sabe que pedir auxílio, dinheiro ou socorro pode ser visto com desconfiança por muitos. Mas garante estar preparada:
— Ninguém nunca falou na cara, mas leio o pensamento das pessoas: “Ela tem tanto dinheiro e está pedindo ajuda?”, “Ah, ela podia ajudar mais”. Sei que pensam isso, não sou burra. Com ajuda, posso fazer muito mais. Queria que, pelo menos, me vendessem as coisas com desconto. Quando sabem que é para mim, os preços aumentam!
A alegria de Xuxa com a Fundação não impediu, porém, que ela se deprimisse com a miséria que viu.
— Pedi que fotografassem as casas das crianças para ver no que podíamos ajudar. Quando vi o material, fiquei deprimida por três dias. Chorei tanto... Durmo numa cama de 3m x 3m, com seis travesseiros de pena de ganso. Tenho dois chuveiros no banheiro... Tem gente que dorme num colchonete rasgado, família de 15 pessoas morando num cômodo! Quero fazer mais, ajudar mais, melhorar mais a vida daquelas crianças. Ainda não estou satisfeita — garante a rainha, com lágrimas de plebeia nos olhos.
Conheça a Fundação Xuxa Meneghel
Atividades
A Fundação funciona das 8h às 22h e atende crianças e jovens de 3 até 17 anos. Além da educação infantil e do trabalho de alfabetização, a instituição oferece oficinas de inglês, informática, rádio, artes, hip hop, percussão, teatro, música, natação, futebol, capoeira, jiu-jitsu, além de projetos de capacitação profissional, geração de renda e inclusão digital.
Planos de melhoria
Xuxa quer fazer um refeitório, uma cozinha industrial, trocar os brinquedos do parque, construir um teatro e um cinema. “Já não preciso mais me preocupar em reformar e cobrir a quadra porque o (empresário) Alexandre Accioly esteve aqui e prometeu dar de presente à Fundação uma quadra nova. Fiquei toda boba”, conta a loura, que tem ainda ajuda de parceiros como Microlins, Instituto Embratel, Grupo Positivo e Sesi.
Para ajudar
Existem muitas formas de ajudar a Fundação. Você pode ser um voluntário e doar o seu tempo. Sua empresa pode doar serviços, equipamentos e materiais de diversos tipos. Quem quiser pode se tornar padrinho de uma criança. O telefone da Fundação é 2417-1252.
